A atriz e cantora Eduarda Fadini, que está em cartaz no Teatro da Casa da Gávea, no Rio, encontrou sua gata quando saía de uma gravação. "Ela veio na minha direção toda suja de lama, e era tão pequenina que cabia na palma da minha mão", lembra ela, que, na época, tinha uma sheepdog chamada Leslie em casa, que também adotou a gata. As três viviam juntas até que a cadela morreu e, depois disso, a gatinha perdeu um pouco da alegria.
Mas Sidarta e Yasodhara, dois cães da raça lhasa apso, vieram renovar as energias do lar. "Eles passam o dia brincando. Um correndo atrás do outro, parece desenho animado", conta Eduarda, que dá aulas de canto em casa, com direito a uma canja da charmosa Yashodhara. "Às vezes ela vai para o estúdio e vocaliza comigo. Mas quando tem alguém ou uma câmera ligada, ela não canta", diz Eduarda.
Lembra com carinho do primeiro cachorro que teve na vida. Ela tinha 6 anos e foi com os pais a uma exposição de animais. Antes de saírem de casa, teve de lhes prometer que não pediria um cachorro. E não pediu. Mas um filhote de cocker spaniel pulou no seu colo e ali ficou até o fim do evento. Os pais ficaram com dó e o bichinho viveu 10 anos de pura aventura com a família.
Alguns anos depois, a história se repetiu. Só que, dessa vez, com o marido. O casal de músicos passava por uma fase difícil financeiramente. Certa tarde, foram dar uma volta no shopping e se depararam com uma pet shop. O marido a proibiu de pegar qualquer bicho no colo (assim como fizeram seus pais). "Quando entrei, havia uma bola de pelo cinza, que começou a se mexer. Eu quis pegar, mas ele não deixou", lembra, referindo-se ao cachorro da raça lhasa apso. Em seguida, uma funcionária pediu a Eduarda que segurasse o cachorro enquanto fazia uma higienização no local. "Ele se derreteu na minha mão, me apaixonei na mesma hora. Olhei para meu marido e ele falou que não poderia comprar."
O cachorro custava R$ 900, dinheiro que eles não dispunham naquele momento, em que o saldo bancário estava no vermelho e não havia trabalho em vista. Eduarda sabia que aquela raça trazia sorte, e a lenda foi comprovada. "Enquanto ele preenchia o cheque desesperado, o telefone tocou e fechamos um contrato com o ator e produtor Paulo Betti."
Sua paixão a fez montar uma comunidade virtual no Orkut, chamada "Meus Bichos São Meus Filhos." A foto do seu perfil na rede é ao lado da gatinha, que também foi modelo de um dos seus CDs. O cão Sidarta, que tem um ornitorrinco de pelúcia, conheceu uma "namorada" pela rede, se casou e hoje tem filhos. Ele, aliás, carrega o sobrenome do marido de Eduarda. Já a gata carrega o sobrenome da "mãe".
Os bichos dividem a cama com o casal. Quando viajam, procuram um hotel que aceite a família toda, principalmente um lugar onde possam ter contato com a natureza. "São meus filhos, mas não quero transformá-los em gente. Gosto deles porque são bichos. Não sou partidária de 'peruagem'. Quando as pessoas querem transformar o bicho em gente, eles perdem a essência", enfatiza, lembrando que uma vez viu uma mulher que levava seu cãozinho em um carrinho de bebê para que ele não sujasse as patas.
Quando está em algum trabalho externo, Eduarda fica com vontade de voltar para casa só para ficar com seus bichos. "Todos deveriam ter um. Eles ensinam a ser tolerante e a ter delicadeza até para entender o que querem", destaca. "Sem eles, a vida não teria graça."
BOXE
Bichos milionários
Os bichos de estimação da milionária norte-americana Gail Posner, que era filha do empresário Victor Posner, herdaram R$ 21 milhões após sua morte. Para o filho, ela deixou R$ 1,7 milhão de herança. Gail faleceu em maio, aos 67 anos. Seus cachorros herdaram uma mansão avaliada em US$ 8,3 milhões, mas a sua predileta, uma chihuahua batizada de Conchita, ainda teve direito a colares de pérolas, um closet repleto de roupas e visitas a spas a bordo de um Cadillac. Outra fatia da herança foi destinada aos funcionários da mansão em Miami, que será garantida enquanto cuidarem dos animais. Sentindo-se lesado, seu único filho, Bret Carr, entrou com processo na Justiça pedindo revogação do testamento.
Há quem diga que a apresentadora norte-americana Oprah Winfrey tenha destinado cerca de US$ 60 milhões para seus cães. Mas se é para falar de cães milionários, vale lembrar da maltês Trouble, "filha" da milionária nova-iorquina Leona Helmsley, que era dona de uma cadeia de hotéis. Trouble vivia em uma cobertura no hotel Park Lane, no Central Park, Nova York. Um pianista do hotel compôs uma canção em sua homenagem. Já o chef era responsável pelo preparo das suas refeições, que eram servidas por uma governanta. Quando a milionária da hotelaria morreu, em 2007, garantiu à cadela uma fortuna de US$ 12 milhões, descrita em seu testamento de 14 páginas. Para o motorista ela deixou US$ 100 mil e para os netos, nada!, "por motivos que lhes são conhecidos."
Mas este não foi o primeiro nem será o último caso de herança para animais. Na ocasião, o juiz abaixou o valor da herança para US$ 2 milhões e direcionou o restante para caridade. Aliás, gostar de bichos deve ser a única coisa que a mais alta classe tem em comum com mendigos e pessoas que vivem nas ruas. Eles não vivem sem o seu. (C.V./AE)
BOXE
Psicoterapeuta alerta sobre os limites da relação
O professor e supervisor da Clínica de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), Ari Rehfeld, alerta para os limites da relação com os bichos de estimação. Segundo ele, quando o animal é o companheiro de alguém que está sozinho, tudo bem, pois realmente preenche essa carência. Mas o sinal vermelho aparece quando o bicho substitui o desejo, a vontade e a necessidade de a pessoa se relacionar com humanos. "O limite é ultrapassado caso a pessoa prefira o bicho, em detrimento do ser humano." Ari observa que o animal não é como uma pessoa, que discorda, discute, tem opiniões diferentes, outros gostos. "Esse tipo de diferença gera certa flexibilidade e você se desenvolve." Para ele, o animal pode virar um cabide de projeção. "A pessoa projeta características humanas para o bicho." (C.V./AE)