Dois cachorros de estimação, móveis e eletrônicos foram atirados do 10º andar de um prédio durante um surto psicótico de uma mulher de Santa Catarina, nesta quarta-feira. A turista, de 53 anos, que, segundo a polícia e a família, sofre de Transtorno Bipolar do Humor, passava as férias em Guarujá, não poderia ter ficado sozinha. A advertência foi feita pela psiquiatra e pesquisadora do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, Ana Hounie.
A especialista explica que os portadores de transtorno bipolar passam por mudanças bruscas de comportamento e devem ser acompanhados. “São duas fases. O paciente pode estar no período depressivo, quando fica quieto, perde o apetite e pode até tentar se suicidar. Ou no de euforia, quando apresenta demonstrações exageradas de alegria ou irritabilidade.”
De acordo com Hounie, provavelmente, a gaúcha passava pelo estado de euforia e apresentou o sintoma de irritabilidade. O processo a levou ao surto e, consequentemente, a atirar os animais e objetos pela janela. “O transtorno é tão intenso que um simples latido pode ter impulsionado a ação”, avalia.
Segundo parentes da mulher, ela ficou sozinha apenas nesta quarta-feira. “A gente já estava vindo do Rio Grande do Sul. Ela surtou e aconteceu isso”.
O Transtorno Bipolar do Humor é provocado por fatores genéticos. “O indivíduo nasce com pré-disposição e, geralmente, alguém da família também apresenta o problema”, esclareceu a especialista.
No entanto, de acordo com a psiquiatra, muitas vezes, a pessoa não apresenta indícios de transtornos psicológicos e surpreende a sociedade e familiares com atitudes agressivas inesperadas. Um exemplo disso é o artista plástico que saiu de um condomínio de luxo em Cotia, na Grande São Paulo, cometeu uma sequência de crimes e provocou diversos acidentes em São Paulo, nesta segunda-feira.
Hounie explica que isso acontece porque alguns fatores sociais e psicológicos podem desencadear a manifestação de doenças psiquiátricas. “Os surtos são característicos de diversas doenças. Pode ser uma esquizofrenia, epilepsia, entre outros quadros clínicos.”
Mas, a especialista alerta: “Ao perceber qualquer alteração, a família deve procurar ajuda profissional. O tratamento é feito com medicamentos e, nos casos de surtos, o melhor caminho é a internação até que a situação seja controlada. O paciente nunca pode ficar sem remédio”.
Os familiares da turista se recusaram a comentar sobre o tratamento médico.
