O drama de Nair Flores, 64, e seu cão Pinpoo, que ficou por 14 dias desaparecido após sumir no aeroporto Salgado Filho, na capital gaúcha, ganhou repercussão e comoveu vários brasileiros. O animalzinho foi recuperado na semana passada, no dia 16 de março. Leia abaixo depoimento da aposentada concedido à Folha.
"Estou exausta. Nunca passei por isso, com todo mundo me procurando. O Pinpoo foi encontrado [dia 16], finalmente. Ficamos acordados até as 3h da manhã naquela noite. Dei banho nele e agora ele está descansando aqui, de gravatinha vermelha.
Quem conseguiu pegar o Pinpoo foi um sargento que trabalha dentro do aeroporto [Salgado Filho, em Porto Alegre]. Ele notou que um cachorro andava por ali à noite, sempre procurando comida. Então começou a deixar ração para ele. Se bem que o Pinpoo é um cachorro muito mimado, não é muito de comer ração, não.
Aí ele botou uma vasilha com frango assado na sala dele. O Pinpoo entrou, lógico: imagina, tanto tempo sem comer frango assado!
O sargento fechou a porta da sala e conseguiu pegá-lo. Ele também tem cachorro e tinha certeza de que aquele cão que andava por ali era o Pinpoo, mas não podia fazer alarde. Se não, chegariam com carros, luzes, e iam deixar o coitadinho em pânico. Foi a melhor estratégia. Ele conseguiu pegar o Pinpoo.
Reencontro
A mulher dele me ligou e disse: "Pode parar de procurar o Pinpoo". Eu fiquei nervosa e disse: "Imagine se eu vou deixar de procurá-lo, ele deve estar sofrendo".
Aí ela me disse que o Pinpoo estava com o marido dela, que ele tinha conseguido pegá-lo. Quando o trouxeram aqui, ele entrou pela porta e seus olhos brilharam. Foi melhor que DNA, foi o que bastou para saber que era o meu Pinpoo.
Eu achei que ele estaria em pior estado, mas está só com uns machucadinhos. Eu cheguei a pensar que ele estava morto. Um cachorro que vive em casa... Achei que não conseguiria sobreviver sozinho naquele matagal.
Acho que ele sobreviveu por amor a mim, ele esperava me encontrar, assim como eu esperava encontrá-lo.
Mais Perdidos
Eu fiquei confusa com os outros cães que vieram me mostrar antes. Por um tempo, achei que eles poderiam ser o Pinpoo, a gente fica confusa, é muita emoção.
Esses cães da mesma mistura de pinscher com poodle são muito parecidos. O primeiro cãozinho, achado em Navegantes, logo vi que não era. O segundo, que acharam em Alvorada (cidade da Grande Porto Alegre) estava em um estado péssimo. Conseguimos deixá-lo em uma clínica veterinária.
No dia seguinte, vi que a pelagem dele era clarinha, o Pinpoo também tem o pelo amarelado, mas é mais escuro. Esse cachorro foi adotado por uma família que não é aqui do Rio Grande do Sul.
Fiquei preocupada com aquele cão, porque ele não era o Pinpoo, mas eu queria ficar com ele para arrumar uma doação. Iam fazer exame de DNA. No fim, a Gol me fez assinar um papel dizendo que aquele não era o Pinpoo, mas aí eu não poderia mais ter contato com aquele cachorro.
Quando encontraram o Pinpoo, ele entrou em casa e foi direto roer o lençol que eu dei para ele. Foi como se ele tivesse chegado dizendo: "Eu sou o Pinpoo".
Viagem
Eu nunca achei que essa história fosse ter tanta repercussão. Comecei timidamente, contando a história em sites de animais, procurando meu Pinpoo. Vou processar a empresa, pois roubaram dias da minha vida.
Cheguei a Guarapari (ES) e nem vi a praia, já sabia desde a parada em Confins que o Pimpoo estava perdido, eu precisei adiantar a volta.
Ninguém deixa um filho longe da família. Não voltei para casa, fiquei com parentes que moram próximo do aeroporto. No segundo dia de buscas, machuquei o pé enquanto procurava.
Tenho ofertas de empresas para comprar duas passagens e levar o Pinpoo na caixinha do meu lado. No dia 17, ele completou 11 meses e fizemos uma festa de aniversário com o programa "Pânico". Foi aniversário mesmo. Ele até comeu bolo."
Fonte: Jornal Floripa