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14 de março de 2010

Cães de Aluguel são a nova polêmica!



Solteiro, morador de apartamento e em uma nova cidade. Esses são alguns dos motivos que fizeram Álvaro Lima, 38, alugar um cachorro. A prática, cada vez mais habitual em países como Japão e Estados Unidos, está se tornando comum no Brasil.

“Sou engenheiro de telecomunicações e mudo muito de cidade. Já morei em Balneário Camboriú, Salvador, Manaus. Agora, estou em São Paulo. Não consigo nunca ter um cachorro. Acho até que não seria justo deixar um animal sozinho em casa o dia todo, enquanto vou trabalhar”, contou Lima.

O solteirão fala que a primeira vez que adotou um cachorro foi quando morava nos Estados Unidos. “Eu estava em San Francisco há sete meses e sentia falta de amigos, família e do cachorro que eu tinha na casa dos meus pais, no Brasil. Então, um amigo meu me indicou o site FlexPetz, que alugava cachorros, e foi uma ótima experiência.”

De volta ao Brasil, e morando em São Paulo há cinco meses, Álvaro resolveu repetir a experiência. “Aqui foi um pouco mais difícil de encontrar o serviço. Mas na empresa que estou trabalhando uma amiga me indicou um canil. Peguei o Boris, um schnauzer, na sexta-feira à noite, e fui conhecer o litoral paulista com a companhia dele e de uma amiga.”

Com um custo de aproximadamente de R$ 40 a diária, no canil Salles, em São Paulo, é possível alugar um cachorro. “As raças pequenas que mais indicamos são Teckel, Basset, Pug, York Shire, Poodle Toy. Já os de grande porte são Labrador, Golden e Poodle Gigante. Essas raças são dóceis, se adaptam facilmente a lugares e pessoas diferentes”, disse Adriano Salles, 43, dono do canil.

Salles afirmou que a maioria das pessoas que aluga são mulheres solteiras e que vivem em apartamento. “Homens são mais difíceis de alugar cachorros. Eles geralmente recorrem a isso quando querem sair com uma mulher ou realmente estão sozinhos em uma cidade.”

SEGURANÇA - Em busca de proteção e poucas responsabilidades, empresas e famílias que viajam de férias também alugam cachorros. Com um propósito diferente dos alugueis para companhia, a locação para segurança costuma durar de um mês a um ano – podendo ter renovação de contrato.

Salles afirmou que o aluguel mensal de um cão de grande porte para segurança chega a custar R$ 490. “Nesse preço incluímos ração, banho mensal, tratamento contra pulgas e carrapatos, treinamento para condutores e troca ou substituição do animal quando necessário ou solicitado”.

As raças mais indicadas para essa prática são Pastor Alemão, Dobermann, Malinois e Rottweiler.

POLÊMICA - Com a expansão da atividade de aluguel de cães, organizações de proteção aos animais vêm se manifestando contra a prática. Para Vânia Nunes, da ONG Vida Animal – filiada a WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal), o maior problema é que ainda não existem critérios e leis que regulamentem a atividade.

“Sem uma diretriz, isso tem contribuído para o desenvolvimento de problemas comportamentais e mentais dos animais utilizados. Em geral, eles são treinados para atitudes agressivas e periodicamente são substituídos por outros, o que causa uma confusão no animal.”

Segundo Vânia, a ideia de usar animais apenas como objetos de segurança ou de companhia, os transformam em robôs, simples objetos. “Os donos de canis e quem aluga pensam que prover água e alimentação aos animais e levá-los ao veterinário quando apresentam algum problema é suficiente. O que não é verdade. Eles sofrem pela ausência de um dono, pelo ambiente estranho, falta de cheiros e barulhos conhecidos. Mesmo que o tratador seja o mesmo, e seja afetivo com o animal, essa mudança de ambiente constante é prejudicial ao animal.”

Vânia explica que no Brasil a única lei que regulamenta a questão do aluguel de cães existe no Paraná. “Em 2007, a Comissão de Saúde, Bem-Estar Social e Meio Ambiente, por meio de críticas de protetores dos animais, se conscientizou do problema e levou à Câmara Municipal de Curitiba um projeto de lei que proibisse o aluguel de cães de guarda”.

O projeto foi aprovado e entrou em vigor em janeiro de 2008. Contudo, por vigorar em apenas uma cidade ele foi insuficiente, o que fez com que, em março de 2009, a Assembléia Legislativa do Paraná aprovasse um projeto que incluísse todo o Estado.

Com a nova lei fica proibida a prestação de serviços de vigilância de cães de guarda com fins lucrativos em todo o Estado. São considerados infratores da lei os proprietários dos animais e donos de imóveis em que os cachorros estejam guardando ou vigiando, assim como todo aquele que contrate os trabalhos de cães de guarda.

Mesmo sem uma lei de âmbito nacional, o artigo 5º da Declaração Universal dos Direitos dos Animais diz que todo o animal que pertence a uma espécie que viva tradicionalmente no meio ambiente do homem tem o direito de viver e de crescer nas condições de vida e de liberdade que são próprias da sua espécie. E o mais importante, que toda modificação desse ritmo ou destas condições que forem impostas pelo homem com fins mercantis é contrária a esse direito.

Contudo, Salles diz que o aluguel não é prejudicial à vida do animal. “Às vezes, o animal volta um pouco triste, mas isso acontece não pela carência do cachorro, mas sim pelo estado depressivo em que as pessoas se encontram quando alugam e o cão por ser sensível, acaba absorvendo os sentimentos.”

A mulher de Salles, Helena Truksa, 31, bióloga e especialista em comportamento animal, disse que, quando os animais voltam nesse estado para o canil, ficam na moradia do casal por alguns dias. “Quando eles voltam para o canil e ficam com os outros cães eles se recuperam muito rápido. Brincam, latem, correm e voltam a ser cachorros.”

Álvaro contou que, apesar de alugar cachorros, busca sempre tratar o animal com respeito. “Na segunda vez que aluguei um cachorro nos Estados Unidos, eu peguei um Labrador. Logo estranhei que ele não queria brincar, o que é típico dessa raça. Fiquei preocupado, mas fui tentando ganhar a confiança dele aos poucos. Eu sei que o aluguel não é o mais correto para o animal, mas acho que se tiverem regras isso pode melhorar. Até porque quem aluga quer muito ter um cachorro, e acaba passando todo o carinho que tem para o animal ‘adotivo’”, explicou o engenheiro.
Fonte: Rr Online